Críticos gastronômicos por um dia

Eu e o Marcelo ontem passamos por uma experiência bastante divertida. Fomos convidados pelo restaurante Panelinha, onde temos ido muito ultimamente nos fins de semana, a integrar a banca examinadora dos trabalhos de TCC do curso de Graduação em Gastronomia do IESB.
Foi uma experiência sui generis! A bem da verdade, parece que nós dois éramos os únicos leigos da mesa, távamos ali meio de gaiatos, mas, antes dos alunos trazerem os pratos, foi-nos explicado, de forma sucinta, o que deveríamos analisar:
1. apresentação do prato (beleza, cores, etc.)
2. sabor
3. textura
4. combinação dos itens entre si (equilíbrio)
5. criatividade e originalidade (fundamentais para quem pretende ser chef de cozinha)
Embora não sejamos da área, somos meio metidos a gourmets. Resumindo, estávamos ali porque gostamos de comer e os donos do restaurante foram com a nossa cara.
Esta parceria foi feita entre alguns restaurantes de Brasília e o IESB, que segundo o professor responsável pelo projeto, é a segunda melhor escola da América do Sul na área de gastronomia. Funciona mais ou menos assim: a cada semana um grupo de alunos prepara um prato que é analisado por essa banca, de umas oito pessoas. Na segunda-feira seguinte, durante o almoço, o prato entra para o cardápio da casa, ou seja, tem que estar muito bom, porque o nome do restaurante, que aliás, eu superrecomendo, está em jogo. Além disso, os pratos têm de ser economicamente viáveis: devem sair para o restaurante a um custo de no máximo 6 reais, pois no cardápio custarão R$ 14,90.
É definida uma carne para cada grupo, e eles criam um prato a partir dessa base. Na noite em que participamos, era a vez do frango. Foi recheado com espinafre e com um molho à base de laranja e ervas, acompanhado de cuscuz de pimentão e legumes e um purê de mandioquinha (que estava divino) dentro de um tomate, que foi o que o professor menos gostou, achou grosseiro. (e com o que concordamos, afinal, até aqui em casa fazemos esse tomate, só que recheado com ricota).
Estavam na mesa o professor da disciplina, Michel, superexigente, os donos do restaurante, Gudrin e Lena, que também são chefs, e alguns amigos-clientes-xeretas, como nós.
Enfim, lá estávamos em plena terça-feira chuvosa, lá pelas dez da noite, esperando os alunos apresentarem o trabalho.
Com aquela fome ficava assim meio complicado não gostar do prato... Eles trouxeram, todos experimentaram e fez-se aquele silêeencio... *eu tive que me segurar para não rir, (eu sempre tive problemas com esses momentos muito solenes, professores muito pomposos, etc.), porque a cara do professor realmente era a de que estava em um bistrô parisiense!* Inevitável não lembrar da figura do crítico chatíssimo e mal humorado do filme Rattatouille. Mas é claro, ele estava no seu papel, né?
O professor ficou um bom tempo uma cara de quem comeu-e-não-gostou, literalmente. E nós dois, os bicões, caladinhos, esperando pra ver como a coisa ia funcionar. Eu que não consigo ficar calada por mais que um par de minutos fui logo elogiando o molho, que, apesar de delicioso, poderia ter vindo mais bem servido, com o que, ainda bem, todos concordaram. Fomos nos soltando aos poucos e acho que conseguimos dar algumas sugestões e colaborar para que os alunos consigam ser aprovados na disciplina.
Depois do jantar, os aspirantes a chefs foram chamados e foi feita uma análise seriísima e com pinta de veredito, primeiro pelo dono do restaurante, depois pelo professor, seguidos dos demais presentes. Ainda ficou faltando a sobremesa (aaaah), que não foi apresentada, deixando o trabalho incompleto e o professor consideravelmente descontente.
Entre outras críticas, o Michel disse que estava com cara de trabalho de última hora, que eles não souberam explicar muito bem o conceito do prato, entre outros comentários não muito favoráveis. Os três alunos estavam supernervosos, até tremiam na hora de explicar o tal conceito.
No final das contas o saldo foi beeem positivo: saboreamos boa comida, conhecemos gente nova e divertida e aprendemos um poquito más sobre gastronomia.
Vocês sabiam por exemplo, que Brasília hoje é o segundo polo gastronômico do Brasil? Já ultrapassou o Rio, segundo pesquisas recentes.
O Marcelo, que é o chef aqui em casa, ficou todo-todo dando uma de crítico gastronômico por um dia. E de quebra foi chamado pelo Gelson para um outro projeto da casa: o 'chef por um dia'. Vamos ver se ele se anima, porque cozinhar pra quatro ou seis é uma coisa, mas para quarenta são outros quinhentos...
Voi lá!

Comentários

Noemia colonna disse…
que barato! eu também quero ser jurada um dia! acabo de vir de buenos aires onde tive experiências gastronômicas prá lá de espetaculares e com precinhos ótimos!!! ainda estou com água na boca... bjkas!

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